Perini – Chamamos “língua” um sistema programado em nosso cérebro que,
essencialmente, estabelece uma relação entre os esquemas mentais que formam
nossa compreensão do mundo e um código que os representa de maneira perceptível
aos sentidos. Os seres humanos utilizam um grande número de tais sistemas
(“línguas”), que diferem em muitos aspectos e também se assemelham em muitos outros aspectos.
Tanto as diferenças quanto as semelhanças são altamente interessantes para o linguista.
O sistema em questão é de uma complexidade extrema: compreende regras (de
pronúncia, de formação de palavras, de formação de frases, de relacionamento das
formas com os significados), itens léxicos (palavras e morfemas, com suas
propriedades gramaticais e seus significados), expressões idiomáticas (como pisar na
bola ou mãe de santo) e clichês (como ficar sem fala e tomar café). Acredita-se hoje
que o sistema é em parte inato, pois todas as línguas parecem seguir determinadas
linhas, ou seja, não encontramos tudo o que seria possível, mas apenas algumas das possibilidades.
A hipótese é que as línguas só se desenvolvem seguindo certas
direções por que de outra forma não seriam utilizáveis por cérebros humanos. E parte
do sistema, evidentemente, não é inato, e precisa ser aprendido a partir de exemplos observados pela criança.
O que chamamos uma “língua” é, assim, uma das realizações históricas da capacidade
humana para a linguagem. E cada língua é profundamente enraizada na cultura que
serve – por exemplo, não creio que em tibetano ou em amárico haja expressões
exatamente paralelas a pisar na bola ou mãe de santo. Já houve (não sei se ainda há)
quem sustentasse que a língua que uma pessoa fala condiciona sua maneira de ver o
mundo (a chamada “hipótese de Sapir-Whorf”). Suspeito que há um grão de verdade
nessa hipótese, mas do modo como é geralmente enunciada ela exagera a
importância da língua nos nossos processos cognitivos.
Aprendi, que todos são competentes em sua língua.
A fala, concretiza a língua ou idioma.
A escrita, é uma tecnologia.
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